30 de junho de 2007

Memória Escrita: Recepção à Santos Dumont - 18/09/1903

Do livro de Leopoldo Amaral, Campinas Recordações publicado em 1927, tem-se este artigo escrito em 1903. Para melhor ler o material, dê um clique sobre a imagem.

Veja abaixo a multidão na rua 13 de maio aguardando a passagem de Santos Dumont que descera na estação ferroviária da Cia Paulista, à época.







27 de junho de 2007

Curiosidades: Casa Livro Azul

De início, em 1876, era apenas uma pequena loja de encadernação chamada AO LIVRO AZUL (o nome da loja foi escolhido por preferência de seu proprietário, não tendo nenhum motivo especial que o justificasse.), além de muitos serviços de fabrico de caixas de papelão para chapéus, que forneciam à firma Bierrenbach & Irmãos e outras caixas que forneciam ao Sr. Alfred Genoud, para embalagem de tranças de cabelo para senhoras. Logo o negócio foi se ampliando, com a aquisição da primeira máquina impressora, destinada exclusivamente à impressão de cartões de visita.


Ao lado direito do espectador, no segundo prédio, nota-se o letreiro da Casa Livro Azul. Tendo do lado esquerdo do espectador e ao fundo a casa do Visconde Indaituba. Rua Direita (hoje Rua Barão de Jaguara).

Em seguida, Antonio Benedicto de Castro Mendes e Roberto Alves criaram também uma pequena papelaria com estoque de caixas e artigos para escritório, para servirem aos pequenos estabelecimentos, que gradativamente também iam se proliferando pela cidade.

Antonio Benedicto de Castro Mendes

Seus primeiros clientes foram os novos comerciantes e industriais locais, que precisavam de livros de caixa para registro de vendas e compras, blocos de notas fiscais, acessórios de cartórios, caixas de embalagens, numa sociedade que começava a se industrializar e modernizar, produzindo seus próprios objetos de consumo.


A casa crescia rapidamente e os negócios prosperavam. Em poucos anos, a venda de artigos de papelaria e escritório se ampliava. Por volta de 1886, ou seja, dez anos após sua inauguração, a CASA LIVRO AZUL já estava consolidada no comércio campineiro e efetuava sua segunda mudança de prédio, sempre para instalações maiores e com novos e melhores estoques de mercadorias.

Por esta ocasião, retirou-se da sociedade o Sr. Joaquim Roberto Alves, passando a LIVRO AZUL a pertencer exclusivamente ao Sr. Castro Mendes. Com mercado abundante e grandes clientes, como a Companhia Mogyana de Estradas de Ferro, a CASA LIVRO AZUL mudou de endereço por quatro vezes, sempre devido a sua necessidade de maior espaço. Pouco a pouco, as oficinas incorporaram mais máquinas impressoras e novas coleções de tipos importados das fundições norte-americanas e alemãs; aumentou seu quadro com mais funcionários especializados (alguns estrangeiros), aprendizes e oficiais. E a papelaria, sua especialidade, passou a receber grandes sortimentos completos de diversas mercadorias vindas diretamente da cidade do Rio de Janeiro e da Europa. Atendia a uma clientela diversificada, de estudantes, donas de casa e profissionais, que se avolumava cada vez mais, tanto pelo público escolar que crescia devido à abertura de novas escolas, como pelos profissionais, que se multiplicavam pelo crescimento e desenvolvimento da cidade.

Sob esta perspectiva, a CASA LIVRO AZUL consolidada como tipografia e papelaria, tornou-se também livraria, atendendo ao público escolar que, na época , em relação a outras cidades, não era pequeno.

Por esta ocasião (1888), também teve início na CASA LIVRO AZUL o negócio de pianos. Com a introdução deste comércio, poder-se-ia dizer que Castro Mendes não era um comerciante qualquer, pois, além de ser homem proveniente de tradicional família campineira, possuía requintes e ares de nobreza. Era amante das artes e das letras e colecionava em sua loja uma grande variedade de quadros e obras de artistas reconhecidos.


O proprietário em seu escritório cercado de quadros e pianos.

Nos anos seguintes a venda de pianos deu tão certo, que Castro Mendes chegou a se orgulhar de ter importado da Alemanha seis pianos por mês, fabricados por Carl Scheel, de Cassel. Foi na música que a vida cultural de Campinas se revelou de maneira intensa, não apenas pela grande presença de imigrantes estrangeiros vindos da Europa, como também pelas famílias brasileiras, como a de Maneco Músico, pai de Carlos Gomes. Giravam em torno da música amadores - homens e mulheres de famílias tradicionais – que freqüentavam eventos culturais, saraus e salões de bailes.

Chegaram a se formar várias bandas de música, que se apresentavam aos domingos no Jardim Público e nas festas e inaugurações importantes, mobilizando, no seu conjunto, grande número de moradores.

Outros nomes famosos, como Carlos Gomes, quando se encontrava em Campinas, freqüentavam também o salão de pianos da CASA LIVRO AZUL, experimentando uns e outros, sempre cercado por muitos admiradores.


Em 1889, Campinas foi duramente atingida pela epidemia de febre amarela e, assim como todo o comércio e indústria locais, a CASA LIVRO AZUL foi também afetada pela doença. Com a falta de muitos trabalhadores, Castro Mendes se viu forçado a fechar as portas. Para proteger sua família, transferiu-se para São Paulo, onde estabeleceu um novo negócio, no mesmo ramo. Chegou a comprar casa própria e a continuar com a importação de pianos, mas em um ano, com o fim da epidemia, retornou a Campinas, tendo vendido tudo o que em São Paulo já havia adquirido, e voltou a investir na CASA LIVRO AZUL.

Em 1898, dando novo impulso a seu comércio, Antonio Benedicto de Castro Mendes adquiriu um motor a vapor, do famoso fabricante “Kleyton”, e imprimiu um novo ritmo a suas máquinas. Por esta ocasião, também adquiriu um “Dynamo”, com força de 20 ampéres e substituiu toda a iluminação a gás por luz elétrica. Desta forma, a CASA LIVRO AZUL foi o primeiro estabelecimento comercial a possuir luz elétrica em Campinas.

A CASA LIVRO AZUL, na sua especialidade, parecia constituir-se num espaço moderno, eficiente, arrojado mesmo, para a época; para o qual os clientes sentiam-se atraídos não somente pelo espaço claro e amplo, mas principalmente pelo tipo de mercadorias que ali poderiam encontrar.

Durante certa fase da loja, Castro Mendes associou-se a seu irmão, João Baptista de Castro Ferraz, que ficou com o cargo de gerente da parte comercial do estabelecimento. A firma passou então a ser denominada Castro Mendes & Irmão, conforme pude verificar em alguns documentos e livros editados pela CASA LIVRO AZUL. Porém, tal sociedade não foi definitiva, desligando-se de Castro Mendes, o Sr. Ferraz, para associar-se a outro comerciante e fundar a popular CASA MASCOTTE, concorrente da CASA LIVRO AZUL.

Apesar dessas alterações em sua organização interna, em 1900, a CASA LIVRO AZUL já havia consolidado seu nome em Campinas no ramo de tipografia, papelaria, comércio de pianos e artigos importados, porém, em viagem a São Paulo, Castro Mendes percebeu que os artigos impressos vendidos naquela praça eram bem mais finos e mais baratos que os seus. Em São Paulo havia tipografias de origem alemã, que importavam máquinas impressoras novas e mais eficientes e desta forma produziam trabalhos perfeitos, com material moderníssimo e a preços baixos.

Foi então a Leipzig, Alemanha, cidade do livro, - e portanto, centro de tudo o que se relacionava com as artes gráficas - onde tomou contato com a stereotypia, que desconhecia, e com os novos meios de encadernação e fabricação de livros em branco. Também visitou centros de obras de arte, onde adquiriu mercadorias de real valor em bronze, metal fino, mármores, etc., que mais tarde vieram a causar tanto brilho e renome à CASA LIVRO AZUL.

Atendendo ao constante dinamismo de seu criador, também em 1900, a casa fundou o CLUB LIVRO AZUL, cuja sede era em seus salões. Ali se reuniam os artistas e intelectuais para concertos e palestras, cantos e declamações, criando um ambiente de entusiasmo pelas atividades culturais, os chamados Concertinhos do Livro Azul.

Ali, Coelho Neto, que residia em Campinas e trabalhava no Ginásio do Estado (hoje E.E. Culto à Ciência) como professor de literatura, concebeu e produziu a sua peça Pastoral, apresentada no teatro São Carlos em 25 de dezembro de 1903.

Coelho Netto, fotografia publicada na primeira edição da Pastoral (1903)

Muitas famílias campineiras se recordaram desta festa, por muito tempo. Nesta ocasião, o Teatro São Carlos, platéia e palco, foram iluminados a eletricidade, o que concorreu muito para a beleza e sucesso daquele espetáculo, registrado como um dos grandes acontecimentos sociais e artísticos da cidade, naquele ano.

Dos anos de 1906 a 1908, a CASA LIVRO AZUL atingiu seu ponto máximo de vendas e produção. O comércio todo, de modo geral, estava aquecido. Tudo que havia era vendido com extrema rapidez e a solicitação de serviços tipográficos era enorme, devido ao fato de ainda serem poucas as oficinas impressoras existentes nas grandes cidades. O comércio, por esta época, costumava encerrar suas atividades às 9 horas da noite, mas a CASA LIVRO AZUL, freqüentemente, se via obrigada a estender seu horário até 10 ou 11 horas, devido ao excesso de trabalho.

Seu filho Cleso de Castro Mendes começou a tomar parte nos negócios da Casa, percorrendo todas as seções e preparando-se para uma natural sucessão. De início, gerenciava a parte comercial, relacionando-se com os fornecedores e praticando na seção de compras. Mais tarde, no ano de 1934, tornou-se então sócio da firma, que passou a girar com a razão social de Castro Mendes & Filho Ltda.


Nos anos de 1915 a 1923, Campinas se desenvolveu extraordinariamente, seu comércio e sua indústria igualmente progrediram e muitas novas firmas se estabeleceram. As empresas de estrada de ferro, principalmente a Mogyana, para as quais a CASA LIVRO AZUL fornecia, tinham tido um aumento considerável no tráfego, tendo, portanto, aumentado suas solicitações de impressos, livros, etc. A loja e as oficinas não tinham mais espaço para comportar tal incremento, e, mais uma vez, a CASA LIVRO AZUL foi ampliada e reformada para abrigar as novas máquinas, importadas da Alemanha, e assim dar vazão ao desenvolvimento da produção.



Na segunda metade do século XIX (1800) e primeiras décadas do século XX (1900) - Campinas iniciou seu processo de modernização, que se caracterizou por um certo modo de viver, símbolos, costumes e usos buscados nos modelos europeus e norte-americanos. Não toda a população, mas certa camada da classe média e a aristocracia se voltaram para as artes, para a música, a literatura e para o consumo de certos objetos e padrões estrangeiros. A CASA LIVRO AZUL é um símbolo deste tempo, pois representa esta idéia que se tem de Campinas nesta época. Foi neste ritmo que Castro Mendes importou e progrediu, acompanhando as inovações tecnológicas e científicas das cidades da Europa. Esteve sempre à frente de seus compatriotas, antecipando o que depois iria se incorporar ao dia-a-dia da cidade.

Entretanto, enormes dificuldades surgiram com a explosão da Segunda Guerra Mundial: dificuldades na importação e exportação de máquinas e papel; uma paralisação total do porto de Santos devido à impossibilidade de navegação, uma significativa queda nas vendas e no comércio, em geral, a perda de grandes clientes (como a Companhia de Estrada de Ferro Mogiana e outras) que, ou puderam adquirir sua própria tipografia ou optaram por outras concorrentes. A tipografia e a papelaria já não eram estabelecimentos totalmente desconhecidos da sociedade, faziam parte de uma época em que livros e materiais para escritórios e negócios não precisariam mais ser importados. A produção local já havia se firmado. A CASA LIVRO AZUL permaneceu com seus trabalhos, substituindo os produtos importados por nacionais, superando assim as dificuldades de importação. Permaneceu ativa por mais 12 anos, quando encerrou suas atividades em 1958.


Túmulo da família de Antonio Benedicto de Castro Mendes e família, no Cemitério da Saudade, em Campinas.

26 de junho de 2007

Memória Fotográfica: Praça Bento Quirino - 1906

Veja a bela foto mostrando a Praça Bento Quirino, onde se pode ver um bonde puxado a burra e outros detalhes de um cotidiano perdido no tempo. Para ver detalhes clique sobre a figura.

24 de junho de 2007

Personagem: Emília de Paiva Meira

Em 1902 assumiu a direção, substituindo a primeira diretora que tinha vindo da Áustria por orientação de Orosimbo Maia, do Colégio Progresso Campineiro a Sra. Emilia de Paiva Meira; distinta senhora pertencente a importante família do Rio de Janeiro, filha do então senador Dr. João Florentino Meira Vasconcelos.

Inicialmente o colégio funcionou na chácara do Guanabara, depois mudou-se para o Largo do Pará. Na sequência, para rua José Paulino e, finalmente, em 1917 para a Avenida Júlio de Mesquita. Imponente para a época, o edifício que foi construído para ser sede definitiva, ainda chama atenção por sua arquitetura.

Por decisão dos fundadores, Sra. Emília assumiu o colégio integralmente a partir de 1913 e em 03 de fevereiro de 1928, Sra. Emília de Paiva Meira, pensando no futuro, fundou a Sociedade Brasileira de Educação e Instrução de Meninas, “da qual só fariam parte mulheres solteiras, católicas e de moral ilibada”, que atuou como mantenedora do colégio até 2003.
Sra. Emília de Paiva Meira, é a figura mais expressiva na trajetória da escola, até a sua morte em 1937.

Nas fotos abaixo tem-se o testamento da Sra. Emília de Paiva Meira.



Transcrição do mesmo.


Monumento particular em homenagem à emérita educadora; abriga seus restos mortais e foi executado por Vilmo Rosada. Situado na Av. Júlio de Mesquita, 840; na entrada da escola.

23 de junho de 2007

Curiosidades: Gazeta de Campinas - 1874

Leia notícia diretamente da Gazeta de Campinas de 1874, quando as pessoas que são histórias hoje; eram vivas e eram notícias. Clique sobre a imagem para ler com detalhes. O jornal Gazeta de Campinas foi fundado por Francisco Quirino (rua Dr. Quirino) dos Santos que era escritor, poeta e jornalista.

21 de junho de 2007

Memória Escrita: Philorphenica

Do livro de Leopoldo Amaral, Campinas Recordações publicado em 1927, tem-se este artigo escrito em 1925. Para melhor ler o material, dê um clique sobre a imagem.





20 de junho de 2007

Memória Escrita: Instituto Profissional Bento Quirino

Do livro de Leopoldo Amaral, Campinas Recordações publicado em 1927, tem-se este artigo escrito em 1927. Para melhor ler o material, dê um clique sobre a imagem.








19 de junho de 2007

Personagem: Jolumá Britto

João Batista de Mello Britto Sá, com este nome poucos dos antigos saberão quem é; mas se você citar “Jolumá Britto”, muitos se lembrarão. Com vóz imponente e grave, ressoava fundo ao falar na rádio. E era reconhecido imediatamente ao falar.

Foto promocional da rádio PRC9. foto da década de 1950.

Ao longo de sua vida, Jolumá Britto construiu em seu favor um enorme castelo de realizações, que o colocava como uma pessoa extremamente útil à cidade: da fundação da primeira estação de rádio da cidade à introdução do bilhete de “Centro Nobre” para estacionamentos de carros na região central, idéia que teria trazido de uma de suas viagens à Europa. Em entrevista realizada em 1985, Brito apontava algumas de suas várias realizações em prol de Campinas: “(...) eu fui um sujeito que fiz tudo em Campinas, tem título ai de cidadão campineiro, tá lá na parede. Não é por brincadeira, certo, cidadão campineiro não era brincadeira (...) então recebi este título por que eu fundei uma porção de coisas aqui em Campinas (...) o cego trabalhador, Lions Clube Norte, Academia de Letras, Sociedade de Cultura Carlos Gomes (...).”

Para ele, o título de cidadão campineiro, cedido no final de sua vida, significava muito mais do que um prêmio, pois era a confirmação de uma vida de realizações a favor de Campinas que o colocaria no mesmo patamar dos filhos “legítimos” da cidade, como foram, por exemplo, Benedicto Octávio e Leopoldo Amaral.

Mostrava também sua devoção e lhe emprestava a importância de quem não somente presenciou durante sua vida alguns dos principais movimentos políticos e culturais da história da cidade, mas também foi parte deles, as vezes fundamental, as vezes apenas enquanto espectador: as transformações da imprensa, as revoluções, os golpes de estado e os movimentos artísticos vividos por Campinas.

Jornalista, radialista, poeta, colecionador, comediógrafo e historiador. João Batista e Mello Britto Sá (seu nome artístico era Jolumá Britto), teve uma vida relativamente longa, ao menos longa o suficiente para se consagrar como um dos maiores escritores de Campinas.

Se considerarmos o volume de publicações e manuscritos avulsos, não resta dúvida que Britto foi mesmo o maior escritor da cidade. Foram mais de trinta livros publicados em vida, vinte e sete de História da Cidade de Campinas, Tonico de Campinas, História da Cidade de Paulínia, História da Cidade de Americana e um trabalho dedicado ao clube Regatas completa a coleção.

Segundo o próprio autor, “Jolumá Britto” foi o nome adotado para a “vida pública” da rádio e da imprensa. É uma união um tanto confusa de João com o nome de uma ex-namorada chamada Luci Maia (de onde retirou o “Luma”) e o Britto de nascença. Posteriormente retiraria de seu nome a parte Mello Britto, passando a assinar oficialmente João Batista de Sá.


Seu arquivo, atualmente no Centro de Memória da UNICAMP, concentra uma quantidade enorme de textos dedicados em sua maioria a Campinas: biografias, históricos de clubes, associações e prédios da cidade. Lá, está apenas uma parte das muitas coleções do autor, que vão de flâmulas comemorativas ao valioso conjunto de almanaques produzidos na cidade no início do século XX.

Oriundo de uma família de classe baixa da pequena Espírito Santo do Pinhal, onde nasceu em 1905, em suas rememorações, espalhadas entre centenas de textos, mini-autobiografias, entrevistas e curiosos currículos manuscritos, sempre se colocou como o campineiro de coração.

Mudou-se para a cidade ainda novo, completou o ensino primário e depois foi trabalhar como jornaleiro para auxiliar nas economias da casa. Alguns anos depois, tentou a sorte no curso de contador do colégio Bento Quirino e, apesar do enorme insucesso (foi reprovado cinco vezes) teve a oportunidade de dirigir seu próprio jornal, The Pupil, que vendia a 400 réis o exemplar.

No início da década de 1920, quando “o governador Epitácio Pessoa iria ser substituído pelo mineiro Arthur Bernardes”, ingressou no jornal Diário do Povo. Primeiro com notícias sobre o movimento do cartório, depois colaborando na página feminina “Minuto de Eva”, onde escrevia pequenos sonetos. Alguns anos depois, foi contratado pela Gazeta de Campinas, onde realizou, por algum tempo, cobertura da “vida social” da cidade (função que Brito dizia ter “inaugurado”) e posteriormente crônicas esportivas, quando chegou a ser correspondente do periódico paulistano Diário da Noite a respeito de assuntos do futebol.

Mas Brito notabilizou-se principalmente por meio da imprensa falada. Considerado um dos pioneiros do broadcasting local, ajudou a fundar a rádio PRC-9 (futura Rádio Educadora de Campinas e hoje pertencente ao Grupo Bandeirantes) em 1933, com “dez contos de réis e pequenas peças”, após alguns anos de intensa labuta pelos jornais, em que aventava a idéia da criação de uma estação local e divulgava, nos fins de semana no Largo do Rosário, transmissões de futebol vindas do Rio de Janeiro.

Desde o início, até bem próximo ao final de sua vida, Britto foi literalmente uma das vozes mais reconhecidas da cidade, pois transmitiu de tudo: esportes, carnaval, grandes eventos locais (como a inauguração do mausoléu em homenagem aos combatentes de 1932 e um banquete oferecido ao então presidente Getúlio Vargas) e shows de calouros.

Apresentou dezenas de programas diários, entre musicais (como “Carnaval da Saudade”), comentários sobre o dia-a-dia da cidade, como “O Assunto das sete”. Falou muito sobre a história de Campinas em quadros como “Campinas de ontem, mundo de amanhã” sendo considerado, ao menos em Campinas, o pioneiro em diversos destes tipos de transmissão.

Por alguns anos, Brito foi uma espécie de vedete das rádios. Era responsável pelos programas de baladas e viveu o auge da “era do rádio” na cidade. No rádio-teatro da PCR-9 e no Teatro Municipal Carlos Gomes recebeu inúmeras celebridades musicais da época, como Sílvio Caldas, Orlando Silva, Almirante, Vassourinha e Carmem Miranda, além de atuar em algumas radionovelas, o que lhe valeu notoriedade especialmente entre o público feminino.

No entanto, a voz da cidade não era transmitida apenas pelas ondas da PRC-9. Durante muitos anos, Jolumá Britto também esteve diariamente nos jornais da cidade, veículo que abandonou pouco tempo antes de falecer. Sua coluna mais longeva, “Bazar”, saiu simultaneamente no Diário do Povo e na rádio durante vinte anos e versava a respeito de vários assuntos, com principal enfoque no cotidiano de Campinas; outras crônicas também apareciam nos dois veículos de comunicação, como “A crônica do speaker”.

A coluna “Bazar”, em especial, ganhou bastante notoriedade no cenário cultural da cidade, talvez por falar sobre qualquer assunto que fosse do interesse de Britto (e ele se interessava por quase tudo), inclusive política, o que o alçou por vários anos a um posto de “comentador da cidade”.

Além disso, sempre foi envolvido com diversas atividades da cidade, as quais sempre enumerava em seus currículos datilografados. Um de seus maiores, curiosamente, era o esportivo. Como pioneiro da crônica e da locução esportiva da cidade, cobria, como costumava dizer, jogos de futebol “em cima de postes”, sob chuva e descargas elétricas, luta livre, bola ao cesto, pedestrianismo, corrida de cavalos e de carros.

O futebol de Campinas, quando ainda existiam os times de bairro, na época do “amanhecer da vida esportiva dos antigos campos de nossa várzea”, teve em Jolumá Britto um de seus maiores incentivadores, não se limitando apenas à cobertura. Inicialmente orador do pequeno Esporte Clube Corinthians de Campinas (conhecido na época como “Corintinha”), passou depois a diretor da Primeira Liga Campineira de Futebol e vice-presidente do Guarani Futebol Clube durante a década de 1940.

No mais, foi presidente da “Academia Campineira de Letras e Artes”, do MMDC (Pracinhas de 1932), da “Comissão de Nomenclaturas de Ruas, Logradouros e Praças Públicas”, da “Associação Campineira de Turismo” e do Sindicato dos Jornalistas local. Foi também co-fundador da “Associação Campineira de Imprensa” e da “Associação dos Radialistas de Campinas”.

Jolumá Britto ao centro da foto, quando das comemorações de 9 de julho, junto ao Mausoléo dos Pracinhas na entrada do Cemitério da Saudade em Campinas.

Para o teatro, escreveu comédias, sendo que a mais popular, A Felicidade não se compra, se vende, paródia do filme de Frank Capra, A Felicidade não se Compra (It's a Wonderful Life), de 1946, chegou a ser encenada no circuito amador da cidade.

Pode-se dizer que o ingresso de Jolumá Britto na história da cidade ocorreu no início da década de 1930, quando decidiu escrever a biografia de Carlos Gomes, Tonico de
Campinas, trabalho pelo qual ganhou dez contos de réis e publicação gratuita pela editora Record de São Paulo.

Posteriormente, aproveitando-se de seu trabalho como tabelião de cartório no 2º Registro de Imóveis de Campinas (onde permaneceu por quase seis décadas), decidiu lançar-se na empreitada de escrever “toda a história de Campinas”, da fundação até o século XIX, o que resultou nos vinte e seis volumes de História da Cidade de Campinas, impressos pela editora Saraiva entre 1956 e 1965.

Colecionador voraz, mantinha em casa uma enorme biblioteca, reunindo documentos e livros diversos a respeito da história de Campinas e do Brasil. Tudo que julgasse pertinente para a história da cidade, Britto catalogava e organizava em artigos datilografados ou em pequenos filetes de papel, que, vez ou outra levava para leitura na rádio ou publicava nos jornais da cidade.

Valendo-se da fama adquirida pela publicação dos livros, acabou por receber alguns trabalhos por encomenda e escreveu também os dois volumes de História da Cidade de Paulínia e História da Cidade de Americana, além do livro História do Clube Regatas.

Até o final de sua vida, Jolumá Britto manteve-se atento aos assuntos relacionados à história local. Sempre com tom crítico, manteve diversos debates pelos meios de comunicação; um deles, o mais famoso, foi relacionado à segunda comemoração do bicentenário local, em 1974, quando sozinho, se contrapôs a outros historiadores da cidade e, em vão, insistiu que a data em questão estava incorreta.

Britto também se envolveu com a preservação dos marcos históricos da cidade. No final da década de 1970 e início da década 1980, participou da Sociedade Campineira de Artes Cultura e Ensino, espécie de entidade voltada à manutenção do patrimônio imóvel da cidade (A Sociedade Campineira de Artes Cultura e Ensino, criada no final da década de 1960, tinha como objetivos “defender os postulados artísticos, culturais e educacionais” de Campinas). Como representante dela, abriu alguns processos de tombamento, enviando análises e históricos de alguns prédios da cidade, principalmente para o CONDEPHAT.

João Batista de Mello Britto Sá veio a falecer em 12 de novembro de 1987; perda irreparável.

Nota: Trechos e fotos desta matéria foram extraídos da dissertação de mestrado de Flávio Carnielli, chamada "Gazeteiros e bairristas: histórias, memórias e trajetórias de três memorialistas urbanos de Campinas", defendida no ano de 2007 no curso de História da UNICAMP.