12 de janeiro de 2007

Personagem: Luis Gama


Luís Gonzaga Pinto da Gama (nasceu a 21 de junho de 1830 em Salvador e faleceu em São Paulo, 24 de agosto de 1882) foi um advogado, jornalista e escritor brasileiro.

Filho de Luíza Maheu (ou Mahin), africana da nação Nagô, nascida na costa da Mina. Trabalhava no comércio como quitandeira, sendo conhecida na cidade de Salvador. Conforme texto auto-biográfico do próprio Luís, a sua mãe foi detida em várias ocasiões, por se envolver em planos de insurreições de escravos. Negra livre e muçulmana, teria se envolvido em revoltas de escravos islamizados na Bahia e na sabinada durante a década de 30, fugido para o Rio de Janeiro e dada como desaparecida anos mais tarde.

Seu pai foi um fidalgo português, gostava de pesca, caça, cavalos, jogo de cartas, festas e assim esbanjou toda fortuna que herdara em 1836 de uma tia.

Em 1837, a mãe foi deportada para o Rio de Janeiro, acusada de participação na Sabinada. Como nunca se converteu ao cristianismo, Luís só aos oito anos de idade foi batizado. Em 10 de novembro de 1840, o jovem, então com dez anos de idade, foi vendido ilegalmente por seu próprio pai como escravo.

Luis Gama foi transportado como escravo no navio Saraiva até à cidade do Rio de Janeiro, ficando com o comerciante Vieira, estabelecido na esquina da Rua da Candelária com a Rua do Sabão. Ainda em 1840 foi vendido para o alferes Antônio Pereira Cardoso num lote de mais de cem escravos, sendo todos trazidos para a então Província de São Paulo pelo Porto de Santos.

De Santos até à cidade de Campinas a viagem foi realizada a pé. Em Campinas ninguém o comprou por ser baiano. Os escravos baianos tinham fama de revoltosos, negros fujões. Voltou para a cidade de São Paulo e, já que o alferes não o vendeu, foi seu escravo na sua residência, onde aprendeu os ofícios de copeiro, sapateiro, lavar, passar e engomar, todos os oficios do escravo doméstico.

Em 1847, quando tinha dezessete anos, Antônio Rodrigues de Araújo hospedou-se na casa do alferes. O jovem tornou-se amigo de Luís Gama e o ensinou a ler e escrever. Gama, conscientizando-se da ilegalidade de sua condição, evadiu-se em 1848, inscrevendo-se nas milícias.

Na década de 1860 tornou-se jornalista de renome, ligado aos círculos do Partido Liberal. Nesta época colaborou no Cabrião de Angelo Agostini. Participou da criação do "Club Radical" e, mais tarde, da criação do Partido Republicano Paulista, ao qual se manteve ligado até à sua morte, em 1882.

Advogado provisionado (chegou a ingressar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, mas desistiu), passou a ganhar a vida como rábula, a partir de sua demissão do emprego de amanuense por motivos políticos, ligados à veemência da sua atuação jurídica a favor da libertação dos escravos. Com o apoio (inclusive financeiro) da Loja Maçônica abolicionista à qual pertencia, desde então despenderia a maior parte de suas energias em levar aos tribunais causas cíveis de liberdade.

Sua liderança abolicionista criou, em torno de si, o movimento abolicionista paulista. Gama, sozinho, foi o responsável pela libertação de mais de mil cativos - um feito notável - considerando-se que agia exclusivamente com o uso da lei. A sua morte comoveu a cidade de São Paulo, e o féretro foi o mais concorrido até então naquela terra. A cada momento alguém subia numa tribuna improvisada, promovendo um discurso emocionado.

Um de seus amigos foi Antônio Bento, que continuou seu trabalho para a libertação dos escravos em terras paulistas.
Retratado em 1878.


Homenagem

De Luís Gama, disse Raul Pompéia:

"...não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros... inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante. E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma candeia iluminando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de infelizes, sem auferir uma sobra de lucro...E, por essa filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bom...Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado."

Advogado da Raça

Demonstrando que a escravidão era sistema injusto e injustificável, Luís Gama produziu alguns pensamentos que merecem reflexão:
• "O escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima defesa."
• "Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime.
• Mas nossos críticos se esquecem que essa cor é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão, tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade."

É nome de rua no bairro do Bonfim em Campinas.

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